quarta-feira, novembro 08, 2006

A Feira e a sua Comarca em 1801

Um dos melhores estudos feitos sobre Santa Maria da Feira é da autoria de Inês Amorim, professora da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, com o título “Descrição da Comarca da Feira – 1801”. Como seria a Comarca da Feira no início do século XIX? É isso que vou tentar explicar baseando-me na obra já citada e concentrando-me preferencialmente no actual Concelho da Feira. Actualmente a Comarca é apenas uma divisão Judicial. No período que está em estudo é uma divisão Judicial mas também administrativa. Pertenciam à Comarca da Feira as «villas» de Cambra, Castanheira, Cortegaça, Couto de Cucujães, Crestuma, Oliveira de Azeméis, Ovar, Pereira Jusã, Sandim e Feira que era o centro destas regiões. Este estudo tem por base um manuscrito realizado pelo Desembargador Corregedor Columbano Pinto Ribeiro de Castro em 1801. Nele são apresentados aspectos geográficos, demográficos, económicos e sociais. Outro facto importante está vincado nesta frase da Dra. Inês Amorim “O manuscrito revela uma grande capacidade de rigoroso trabalho de recolha de dados, de profissional habilitado, não pertencendo ao conjunto de autores que a propósito de exporem o seu pensamento económico e político, apresentam alguns dados seriáveis.” Por isso, podemos considerar que esta é uma fonte histórica valiosíssima.
Em termos de produção agrícola, a «villa» da Feira é muito abundante em cereais, tem algum vinho, algum peixe e muita lenha. Relativamente à pesca surge um dado curioso. A existência de um pequeno lugar chamado Espinho (forte núcleo piscatório) pertencente a Anta. Actualmente, como sabem, os papéis inverteram-se. Outra nota curiosa que este estudo nos indica é sobre a periodicidade da realização de feiras. Algumas dessas datas ainda hoje se mantêm. Feiras anuais, existiam a do dia de S. Sebastião, a do Castelo (sem referir a data) e a do 29 de Setembro em Lourosa. Mensalmente existia feira dia 4 em Arrifana, 7 em Canedo, 9 em Lourosa, 17 em Souto Redondo (actualmente São Jorge), 20 na Feira e 25 em Morado (actualmente Mozelos). A fonte estudada por Inês Amorim apresenta uma especificidade extremamente importante: a definição profissional da população da Comarca. Os dados apresentados são muito curiosos. Em primeiro aparece, obviamente, a profissão de lavradores (43,1%). Mesmo assim podemos considerar um número baixo para a época comparando com a generalidade do país. Isto demonstra a singularidade desta região e forte aptidão para a indústria. Obviamente nessa altura não existia o que hoje consideramos indústria, mas esses foram os primeiros passos numa maratona que ainda hoje é percorrida nestas terras feirenses. Somos uma região de indústrias. Em segundo lugar encontramos uma profissão muito particular. Os Sombreireiros, que correspondiam a 7,3% da população activa. Esta é uma «indústria» produtora de chapéus. Num dos próximos artigos irei debruçar-me sobre esse assunto. No terceiro posto encontram-se os pescadores que correspondem a 5,7% da população. Por todos os dados apresentados, a Comarca seria certamente constituída por pequenos núcleos urbanos. Apenas Canedo e Cucujães atingiam os 500 fogos (um fogo é uma habitação. As contagens eram feitas por fogos e não por pessoas).
Como conclusão final a Dra. Inês Amorim traduz na perfeição a análise feita com esta fonte. “Se é claro o carácter essencialmente agrícola de toda a Comarca, a verdade é que surgem diversos sinais de especificidades susceptíveis de poderem vir a revelar, a breve trecho, o peso crescente de outros sectores, nomeadamente o industrial.”