sexta-feira, dezembro 22, 2006

A Cortiça em Terras de Santa Maria

Desde do início das “Histórias da Minha Terra” muitos devem ter-se questionado “para quando um artigo sobre a cortiça e sua indústria?” Ora bem, aqui está ele!! Em primeiro lugar gostaria de dedicar este artigo aos meus pais, que tal como centenas de feirenses, se levantam de segunda a sexta para trabalhar de sol a sol nesta indústria. Muito haveria para escrever sobre a cortiça, mas no artigo de hoje apenas me irei debruçar no crescimento da indústria corticeira no período Salazarista. Tal como dizem as autoras do artigo “A indústria transformadora de cortiça em Santa Maria de Lamas, nos anos 50 e 60”, Carla Matos e Marta Pinto, “a cortiça é o único produto que posiciona Portugal no primeiro lugar à escala mundial, tanto a nível de produção, como a nível de industrialização” e acrescento eu, também ao nível da maquinaria. O primeiro passo para este sucesso foi dado nas décadas de 30, 40 e 50 do século XX pela política económica do Estado Novo. Desde a década de 30 que a indústria corticeira era uma das prioridades nos planos salazaristas, mas foram os Planos de Fomento Económico que empurraram este sector para o topo nacional. Os Planos de Fomento começaram a ser preparados logo após a 2ª Guerra Mundial e o primeiro é aplicado em 1952. Estes planos pretendiam colocar (finalmente) Portugal como um país industrializado. Estes planos são também uma resposta às pressões das nações democráticas que estavam a olhar com preocupação para este cantinho da Europa. Afinal, ainda agora tinham derrubado uma Alemanha nazi e uma Itália fascista e não pretendiam ter mais problemas com as ditaduras portuguesa e espanhola. Os planos foram bem sucedidos já que Portugal cresceu bastante em termos industriais.
Não se julgue, contudo, que desde sempre Santa Maria da Feira foi o centro nacional da produção corticeira. Até ao patamar actual foram necessários vários anos e diversos factores. O primeiro centro corticeiro nacional é Setúbal nos anos 50 e 60. Contudo, este centro entra em declínio e Faro (que vinha desenvolvendo uma indústria corticeira paralela) passa a ser o novo pólo corticeiro aproveitando a matéria-prima próxima. Progressivamente a zona Norte e especificamente Santa Maria da Feira passam a novo centro nacional corticeiro. Este crescimento é baseado apenas num dos sectores desta indústria. O sector rolheiro. Aliás, é usual actualmente tomar a parte pelo todo. Ou seja, chamar à indústria corticeira indústria rolheira. Interessante é verificar as transformações ao longo dos anos e como as pessoas estão reticentes à mudança. Por exemplo, a notícia mais antiga (que conheço) da Broca é de 1934 e os funcionários revoltaram-se porque não queriam máquinas! “Isso nunca!” – diriam alguns. Agora nenhuma empresa rolheira vive sem elas. É o mundo sempre em transformação na Época Tecnológica. Mais um facto posso avançar relativamente à indústria corticeira na Feira. Tal como nos indica o artigo, já citado em cima, a notícia mais antiga, documentada, da presença de uma indústria corticeira em Terras de Santa Maria é de 1865 no Inquérito da Repartição de Pesos e Medidas do Conselho Geral das Alfândegas. O inquérito Industrial de 1890 indica a existência, na Feira, de 4 pequenas fábricas corticeiras.
Foi durante o Estado Novo que o sector corticeiro mais cresceu. O próprio regime patrocinou este desenvolvimento. Entre 1950 e 1960 foram 11 o número de feiras estrangeiras com exposições corticeiras portuguesas. Desde o número de fábricas, aos funcionários e às máquinas tudo cresceu consideravelmente. Por tudo isto, ainda hoje temos a indústria corticeira como mais importante do concelho.