quarta-feira, novembro 29, 2006

Fiães e Lobão – A palavra lobo na origem do nome

Uma das pessoas que mais admiro nestas Terras de Santa Maria é o Padre Domingos Moreira. Ler a sua obra é fascinante. Sempre que leio algo escrito pelo pároco, digo: “Bolas, afinal sei é muito pouco…” É sem dúvida excepcional e digo sem rodeios, na toponímia (ciência que estudo a variação do nomes das terras) é, de longe, o melhor do país e quiçá da Europa. A minha última leitura do Padre Domingos foi feita na excelente revista editada, em 2005, pelo CDPAC “Ulfilanis Villa”. O artigo em questão, “Origem do Nome de Fiães. Perspectiva de uma pesquisa linguística”, analisa as várias possibilidades da origem do nome Fiães percorrendo todas as hipóteses. Ora, eu julgava estar descansado quanto à origem de Fiães, ligando o nome da localidade ao célebre bispo Úlfila, do século IV, que traduziu a bíblia. Tipicamente bairrista, sempre gostei desta hipótese. Atribuir a origem das Terras de Santa Maria ao nome de uma personagem histórica é desejo de todos os bairristas. Contudo, à luz de uma investigação mais aprofundada (que o Padre Domingos Moreira fez) esta é uma verdade estilo Goebbels (ministro da propaganda nazi) que dizia: “Uma mentira contada várias vezes, transforma-se numa verdade.” No artigo publicado na revista já citada, o pároco nem sequer coloca a hipótese de Fiães ser originário do bispo Úlfila, já que este nunca esteve na Península Ibérica. Com explicações toponímicas, Domingos Moreira apresenta a explicação de outros “Fiães” existentes na Península Ibérica e diz que estes são originários de feno. Só o caso de Fiães, de Santa Maria da Feira, é que não deriva desta palavra. Levantadas todas as hipóteses, e sabendo que em 1079, Fiães surge como “Fianes” e nos séculos XIV e XV como “Maria Paaez Oufeaaes”, a hipótese mais forte, segundo o especialista, é a origem do nome estar na palavra “lobo”. Pelas mutações da língua, “Óffila,” que deriva de “Wolf” (lobo em português) pode ser a origem de Fiães. Para explicar esta teoria, o pároco acrescenta que era normal atribuírem-se nomes de animais a pessoas. Veja-se o caso de António Lobo Antunes. Os romanos e bárbaros atribuíam aos soldados, pelos seus feitos e qualidades, nomes de animais. Estas terras estiveram povoadas por romanos e bárbaros. O investigador acrescenta que o nome “Óffila” aparece documentado na zona de Gaia nos anos 984, 988 e 1043 e no concelho de Águeda nos anos 1080, 1037-1065. Fiães de Santa Maria da Feira fica entre estas duas regiões. Como entra Lobão nesta história? Fácil. Também Lobão provém de lobo, mas neste caso do latim (“Lúpus”). Neste caso, alguém com o nome derivado de lobo daria origem a Lobão. Seriam estes dois nomes de uma só pessoa? Não parece, já que a sabedoria popular, certamente, não alteraria de língua um dos nomes. Isto não quer dizer que Fiães e Lobão signifiquem lobo. Significa sim, que estas terras foram povoadas por alguém que tinha um nome derivado de lobo. O termo lobo é interessante, já que a sua conotação nunca foi a melhor. Na bíblia são vários os casos em que o lobo é como o diabo, que vai atrás do rebanho. Jesus é o pastor. Vejam os ditados populares. “O lobo que veste a pele do cordeirinho”; O “lobo não come lobo”; “Quem não quer ser lobo, não lhe veste a pele.” A sabedoria popular não perdoa e o lobo é sempre visto como o manhoso, o “Chico esperto”, o diabo. A palavra lobo chegou a ter o sentido de “mulher de vida”.
É por este tipo de problemáticas (toponímia das cidades, vilas e aldeias feirenses) que a leitura do Padre Domingos Moreira é obrigatória e muito interessante. Escrever como ele não é para quem quer, é para quem sabe e pode.

segunda-feira, novembro 20, 2006

Condes de S. João de Ver – 102 Anos de (muita) História

Passados mais de 102 anos devem ser poucos os feirenses que sabem da existência dos condes de S. João de Ver e mesmo aqueles que o sabem não devem ter conhecimento da importância histórica desta família para as “Terras de Santa Maria”. O título de conde foi atribuído ao médico cirurgião João Augusto da Cunha Sampaio Maia a 25 de Junho de 1904. Este era sobrinho de Joaquim de Sá Couto, membro de família também distinta. Desde já percebemos que existem duas famílias poderosas que juntas formam um núcleo ainda mais poderoso. Durante o século XX este núcleo vai impulsionar o progresso para a região. Um primeiro aspecto a reter é o amor desta família pela «sua» terra já que nunca abandonaram as propriedades em S. João de Ver e Oleiros. Ainda mais. Investiram a sua fortuna na melhoria destas localidades. A esta família está ligada a exploração e crescimento das fábricas de papel de Candal de Cima, Candal de Baixo, Engenho Velho e fábrica de Ponte Redonda. Não me irei debruçar sobre este tema porque já existem obras valiosas sobre a indústria do papel como a escrita por Maria José Ferreira Santos “A Indústria do Papel em Paços de Brandão e Terras de Santa Maria”. Outro aspecto muito importante ligado a esta família é a edificação do Hospital de S. Paio de Oleiros. No boletim do Hospital Asilo de S. Paio de Oleiros de Junho de 1970 encontramos a história do nascimento deste Centro Médico. A 24 de Janeiro de 1902 morre o Comendador Joaquim de Sá Couto e no testamento ele deixa o seguinte: “Nomeio meu testamenteiro o médico cirurgião João Augusto da Cunha Sampaio (…) Quero que da minha herança se separem cento e vinte contos de reis (…) O meu testamenteiro compre terrenos dentro da freguesia de Oleiros, onde mande construir um edifício nas condições modernamente aconselhadas pela ciência para Hospital, destinado a receber e tratar doentes pobres (…) Mandará também construir um edifício para Asilo, destinado a receber e sustentar gratuitamente pessoas pobres”. O Hospital foi inaugurado a 11 de Janeiro de 1909 e no dia seguinte era capa do Primeiro de Janeiro onde dizia: “ O hospital-asilo é um modelo no género e faz honra à sábia direcção do sr. Conde de S. João de Ver, que é também um médico ilustre. O aceio [sic] é primoroso. A higiene foi rigorosamente mantida. Rivaliza com os melhores do nosso paiz.” No jantar que se seguiu na casa do conde em Oleiros estiveram imensas individualidades ilustres. O presidente da Câmara, Bispos, padres e celebridades da época.
Relativamente à família Sampaio Maia deixo alguns dados biográficos desde a criação do título. João Augusto da Cunha Sampaio Maia, 1º conde de S. João de Ver. Este foi médico de renome, monárquico convicto, político, presidente da Câmara da Feira e fundador do Hospital de Oleiros. O seu filho, Ângelo de Sá Couto da Cunha Sampaio Maia, não pretendeu o título de conde, mas foi figura de destaque nesta família. Foi deputado, Presidente da Câmara de Lisboa e ministro do trabalho sendo-lhe atribuído a concretização da passagem para 8 horas diárias de trabalho. O seu filho, António Caetano Machado da Silva de Sá Couto da Cunha Sampaio Maia tornou-se no 2º Conde de S. João de Ver. Foi oficial do exército e presidente da fundação Comendador Joaquim de Sá Couto. O seu filho e actual 3º Conde é Fernando José Gramaxo de Sampaio Maia, presidente de diversas instituições, político, professor e monárquico convicto. Também ele figura da praça pública. Para terminar agradeço a forma como o Dr. Fernando Sampaio Maia me recebeu e me auxiliou mostrando uma enorme paixão e orgulho pelo património familiar. Muita da História de Santa Maria da Feira está na Quinta da Torre e felizmente o proprietário mostra sensibilidade para preservar este espólio e para proporcionar aos especialistas o seu estudo.

quarta-feira, novembro 15, 2006

Misericórdia da Feira – um porto de abrigo desde o século XVI

Os portugueses sempre foram conhecidos como um povo hospitaleiro e principalmente caridoso, por isso não é de estranhar que na Época Medieval a caridade para com os mais fracos fosse já uma realidade. Quando em 1498 foi fundada a Misericórdia de Lisboa já muitas confrarias, irmandades e corporações haviam sido criadas para ajudar os necessitados e a Misericórdia é apenas mais uma dessas instituições. A Misericórdia da Feira surge nesta onda de ajuda ao próximo iniciada por D. Leonor, esposa de D. João II. Para além da criação das Misericórdias outros portos de abrigo foram fundados como os conventos da Madre de Deus e o da Anunciação. Entre 1498 e a morte de D. Leonor (1525) existiu um boom de Misericórdias em Portugal, mas ainda não é nesta fase que é criada a Misericórdia da Feira. Descobrir o ano exacto da fundação tem sido uma tarefa complicada. Vaz Ferreira, figura ilustre destas terras, em 1946 afirma que o ano de fundação é 1594. A sua justificação é uma série de algarismos, 1594, que aparece numa folha isolada num documento da Misericórdia. Este documento isolado não serve para afirmar que isso representa a data da fundação da Misericórdia. Pode muito bem ser a data de qualquer evento da Confraria. Vaz Ferreira também o sabia e vai tentar justificar a sua teoria com outro documento datado de 1654 encontrado no Livro dos Estatutos de 1756. Mais uma vez este documento não pode provar nada porque o documento é redigido 60 anos depois da data sugerida como ano de fundação. Francisco Ribeiro da Silva, na sua obra “A Misericórdia de Santa Maria da Feira” diz que apesar de ser um tiro no escuro, a intuição de Vaz Ferreira foi feliz. Na pesquisa na Torre do Tombo de Ribeiro da Silva foi encontrado um documento de 18 de Novembro de 1594 que concede à Misericórdia da Feira os privilégios da de Lisboa. O que podemos afirmar é que pelo menos nesta data a Misericórdia da Feira já existia. Mas desde quando? Não se sabe. Um dado importante, antes da Misericórdia da Feira já existia uma confraria pelo menos de 1567 com objectivos semelhantes e que se situa na ermida de Nossa Senhora do Campo. A Misericórdia vai aproveitar as bases lançadas para se fixar na Vila.
Com a documentação existente na Misericórdia podem ser apresentados alguns dados curiosos. Os aderentes da confraria eram chamados de Irmão e existiam os de Maior e os de Menor condição. Os de Maior condição eram nobres locais, funcionários administrativos e padres. Os de Menor condição eram lavradores e mercadores. Estes tinham de se sujeitar a trabalhos que os de Maior condição estavam livres. Para ser Irmão haviam pré-requisitos que tinham de ser cumpridos. Por exemplo, tinham de viver na Vila, terem mais de 25 anos e não podiam ter cometido crimes infames. Ser mulher não significava ficar afastado da Misericórdia. A Condessa da Feira Dona Joana Forjaz Pereira Meneses e Silva até Provedora foi da Misericórdia! Em pleno século XVII este é um aspecto que merece relevo. Não era caso único, mas mesmo assim avançado para a época. Outro dado importante é a variação do local de residência dos Irmãos entre 1689 e 1721. Na primeira data, dos 64 novos Irmãos 21 eram da Vila da Feira e os restantes das vilas vizinhas. Já na segunda data o panorama mudou, já que o condado estava sob o domínio da Casa do Infantado e o poder central tinha de se impor. Assim, dos 41 novos Irmãos, 36 eram da vila da Feira e os restantes das vilas vizinhas. Os Irmãos podiam ser expulsos e apresento aqui algumas das causas que levariam à expulsão: Ser culpado de suborno nas eleições, rejeitar cargos, faltar mais de 3 vezes a funerais de Irmãos, eleições ou «desflorar» donzelas. Sempre que eram convidados para um cargo a aceitação era obrigatória, tal como a presença em acontecimentos especiais.
Quais os objectivos da instituição? A função principal era socorrer pobres, doentes e aleijados com comida, esmola e visitas domiciliárias. A misericórdia tinha um pequeno hospital para onde iam os aleijados e doentes. Os hospitais eram só para pobres. Os ricos eram tratados em casa. Também os mortos eram ajudados já que os Irmãos eram enterrados na Misericórdia e realizavam-se missas. Para a História de Santa Maria da Feira é fundamental o papel desempenhado pela Misericórdia. Durante longos anos este foi um ponto de passagem não só das elites sociais como dos mais pobres do Condado.

Memórias paroquiais – O inquérito depois do terramoto

Em 1755 um terrível terramoto assolou Lisboa de forma trágica mas todo o reino foi afectado. As repercussões deste acontecimento trágico atingiram não apenas o sul do país, mas também o centro e norte. Não entrarei aqui nas consequências deste terramoto já que é do senso comum a sequela deste acontecimento. Estabelecendo um paralelismo com a actualidade o terramoto teve as mesmas repercussões do tsunami que assolou a Ásia em 2004. O artigo de hoje tem outro objectivo.
Comentar a acção desenvolvida pelo Marquês de Pombal que pretendia saber quais os efeitos do terramoto em todo o reino. Por isso vai patrocinar o célebre inquérito paroquial de 1758. Estes inquéritos tinham como objectivo perceber como estava o país depois da catástrofe. Mas não foi apenas isso que se fez. Já que se ia realizar o inquérito por todas as freguesias porquê não aproveitar para um grande censo? Este foi o pensamento dos homens forte de Portugal. Existe a teoria que este trabalho já estava a ser realizado antes do terramoto com a edição de um dicionário geográfico, mas eu não relaciono directamente estes acontecimentos. Indirectamente sim já que não podemos esquecer que a historiografia dava os primeiros passos. Jean Mabillon (1642-1707) fundava a diplomática e a paleografia com a esfragística e a cronologia. Outro aspecto importante é a instauração do absolutismo por D. João V (1706-1750). Neste tipo de governação o monarca tem de controlar todo o reino. Sucedeu-lhe o filho D. José I que delegou no Marquês de Pombal o poder. E como todos sabem, este foi impiedoso, dominando o reino com punho de aço. Por isso é normal começarem a surgir estudos geográficos e historiográficos. Já as memórias paroquiais são feitas com outros objectivos. Perceber as consequências do terramoto de 1755 em todo o reino e aproveitando este facto fazer o levantamento geográfico das paróquias (freguesia deriva de paróquia. Freguês era aquele que frequentava a paróquia). Devem estar a questionar-se “Por que razão são os padres a fazer o inquérito?” Tal como hoje, quem melhor do que os padres para saber de tudo e todos…eles tinham acesso a todas as pessoas, lugares e dominavam as letras.
No caso da Feira o inquérito foi preenchido por São Pedro Quintela. Pároco da Vila da Feira. Ele concluiu o inquérito no dia 30 de Abril de 1758. São 60 as perguntas e dividem-se em Geografia, Serra e Rio (Apesar de serras e rios também serem geografia. Por geografia aqui entende-se o número de pessoas, distâncias, características da terra e da paróquia…). Ao segundo ponto o pároco não responde já que não existem serras em Terras da Feira. Estas perguntas e respostas podem ser consultadas no livro lançado recentemente por Roberto Carlos “Memórias Paroquiais de Santa Maria da Feira – 1758”. Um dos aspectos é a toponímia das freguesias da Feira. Como elas mudaram pouco… todas elas começavam pelo nome de um santo. “São Mamede de Guisande; São Martinho de Moselos; Santa Eulália de Sanguedo; Santa Maria de Pigeiros; São Salvador de Fornos da Feira; Santa Maria de Arrifana; São Martinho de Argoncilhe...outro dado curioso é relativo aos produtos agrícolas da Vila. Aqui plantava-se fruta, milho-miúdo, trigo, feijão, centeio e linho. Tinha óptimos campos agrícolas. O correio de Lisboa chegava às sextas-feiras mas no domingo de manhã já partia. A vila era atravessada por um rio e existem 5 pontes e 5 moinhos. No rio existem trutas e bogas. Estes são apenas alguns dados deste inquérito mas destacarei particularmente uma pergunta. Quais as consequências do terramoto de 1755? Na freguesia o terramoto também provocou estragos. Um campanário no castelo foi movido dois palmos da parede, o dormitório do convento sofreu danos e a Misericórdia também sofreu danos, caindo a maior parte da Abóbada.
Como verificamos, o terramoto de 1755 não foi apenas em Lisboa. O terramoto teve as maiores consequências em Lisboa mas por todo o país sentiram-se os efeitos desta catástrofe. Como prova temos as memórias paroquiais de 1758 que são as mais apetrechadas fontes geográficas da Época Moderna.

Santa Maria da Feira – de onde vem o nome?

São poucas as teorias acerca da origem do nome Santa Maria da Feira e eu apresentarei uma que parece lógica, muito simples de perceber e justificada. Como podemos ver, o nome divide-se em dois. Santa Maria e Feira. Relativamente ao primeiro desconheço estudos sobre o seu uso. A única teoria que conheço é apresentada nas Memórias Paroquiais de 1758 (que explicarei no próximo artigo) que diz que esta região foi habitada por leoneses e que estes baptizaram estas terras de Santa Maria. Parece-me irreal e remota esta hipótese. A minha explicação é simples e irei obviamente justificá-la. Santa Maria deriva da povoação que existiu em Fiães, no Monte Santa Maria. No Monte Santa Maria existiu o povoado mais antigo das Terras feirenses e certamente a sua hegemonia foi sempre patente durante o período celta, romano, bárbaro e mouro. Não podem esquecer que existiam poucos núcleos de povoações importantes e as distâncias entre estes povoados eram grandes. As florestas eram apenas para os selvagens, os que não pertenciam à sociedade.
Tal como apresentei no último artigo, o castro de Fiães tinha uma enorme importância porque ligavam-lhe as vias romanas e provavelmente era uma das principais fortificações da Península Ibérica. Assim, não é de estranhar que este Monte Santa Maria fosse conhecido e reconhecido não só na Península mas também no mundo romano. Com as invasões bárbaras e mouras (entrando na época medieval) este género de fortificações perdeu importância porque já não conseguiam proteger convenientemente. Para isto também contribuiu o aparecimento de novas fortificações. Não, ainda não estamos a falar do Castelo de Santa Maria da Feira que esse é do século X. Os novos senhores destas terras faziam uma vida nómada o que não permitia que existisse um local fixo para viver. Sobreviviam a roubar e a pilhar deambulando de terra em terra.
Avançando um pouco no tempo chegámos à constituição do Condado Portucalense e Reconquista e aí, o nome “Santa Maria” já tinha continuação. “Feira”. De onde virá este nome? Aqui parece ser consensual a opinião dos historiadores e arriscam uma opinião. Durante os séculos III e IV, um povo denominado de Franco conquistou grande parte do continente europeu e exerceu um vasto poder influenciando economia, sociedade, política e comércio. Nesta civilização surgem umas feiras – locais onde se comercializam produtos – intituladas de Francas. Certamente nas Terras de Santa Maria realizava-se uma importante Feira Franca e a região passou a ser conhecida pela sua feira. Importante é também o facto de as Feiras Francas durante séculos serem os principais locais de comércio. Por Feira Franco entende-se, também, uma feira sem franquia. Ou seja, sem taxa. Por isso é usual um local ser reconhecido “pelo sítio onde se realiza a feira”. A Feira Franca manteve-se durante muito tempo nestas terras.
O primeiro documento historiográfico conhecido com o nome de Feira nestas paragens é em 1117 numa Carta o Couto de Osseloa. Neste documento fala-se da feira e não do sítio onde se realiza a feira...
Assim temos a união entre Santa Maria e Feira. Outro dado importante é relativo ao termo “Terras” que antecede o de Santa Maria durante a Época Medieval. A posse de terra neste período – e mesmo agora – assume crucial importância. Era normal atribuir-se esse termo antes de determinado nome. Para servir de exemplo proponha uma observação pelo caso de Fiães. O seu nome deriva de Ulfilanis Villa que não é mais do que dizer a “Terra de Ulfila”. Noutro artigo explicarei este caso específico.
Espero que tenha sido simples perceber de onde vem o nome Santa Maria da Feira. Afinal gostamos sempre de saber a História de onde vivemos.

Lancóbriga – a Atlântida Perdida (talvez) em Terras da Feira

Nos últimos tempos, um cientista português, num estudo verdadeiramente patriótico, publicou um trabalho em que dizia que a Atlântida – a mítica civilização desaparecida – encontrava-se em Lisboa. O cientista dizia que Lisboa deixou de ser uma de ilha por causa de um tsunami. Esta teoria fez-me pensar numa outra, mas agora situada em Terras da Feira.
Alguns historiadores, a maioria feirenses, atribuem ao castro situado em Fiães a velha e mítica civilização romana de Lancóbriga. O imperador Antonino, no século II no seu “Itinerário” menciona três importantes localidades, Cale, Lancóbriga e Talábriga. Cale é indiscutivelmente Gaia, partindo deste ponto fixo, seguindo a estrada romana, o local que está marcado como Lancóbriga é situado provavelmente no Castro do Monte de Santa Maria, em Fiães. Talábriga será possivelmente em Albergaria-a-Velha. Se esta explicação for a correcta, o Castro do Monte de Santa Maria seria o centro de Lancóbriga. Isto significa que teríamos um dos pontos mais importantes da presença romana na Península Ibérica em Terras de Santa Maria. Mito ou realidade? Ninguém sabe.
Alguns historiadores, devido a alguns relatos, colocam este povoado perto de Lisboa. Outros especialistas, também devido a outros relatos, não duvidam que este se situa em Fiães. O regionalismo por vezes é culpado da falta de rigor histórico. Arqueólogos que estiveram nas escavações do Monte de Santa Maria dizem que este é um castro banal mas tem como grande característica a sua ligação às estradas romanas. Mas não poderá ser este o elo de ligação a Lancóbriga? Nos relatos históricos diz-se que de Cale a Lancóbriga estariam 13.000 passos (sim, esta era a medida romana) o que dá 19.235 metros. Esta é aproximadamente a distância que separa O Monte Santa Maria de Gaia... É caso para dizer: “E esta hein?” Os documentos escritos são apenas relatos e não fontes históricas de plena confiança e por isso as dúvidas.
Talvez nunca se vá descobrir onde se situava Lancóbriga e cada Localidade tentará trazer para si a localização deste povoado. Afinal Viriato (o grande Lusitano) também nasceu em vários sítios, Portugal nasceu em vários locais (Guimarães, Porto, Feira...) e o Brasil foi descoberto por espanhóis...estas são apenas algumas teorias que provam que o bairrismo e regionalismo são ainda importantes nos dias de hoje apesar de estarmos numa sociedade global.
Mas existem certezas em relação ao Castro do Monte Santa Maria. O castro é de origem Celta, mas com a expansão romana rapidamente este povo foi derrotado. Este foi ocupado durante o período do Império Baixo romano. Depois foi ocupado e arrasado pelos bárbaros do Norte, mais tarde pelos mouros e depois deixado ao abandono já que nas sociedades medievais e modernas estas fortificações não tinham importância. Já muito perto do nosso tempo as populações em redor do castro utilizaram as suas pedras – “bonitas e de boa qualidade” – para a construção de habitações. Outra das certezas é que o castro está ligado a diversas vias romanas e estas de certeza são de extrema importância.
O castro foi apenas explorado nas camadas superiores e sem a exploração das camadas inferiores será impossível descodificar a importância daquele povoado. Das primeiras escavações apareceram diversas moedas de ouro e prata.
Mesmo que sejam o “Indiana Jones” não tentem escavar o castro porque são vários metros de profundidade para atingir vestígios deste género.

D. Álvaro Pereira Forjaz Coutinho – O desconhecido que queria dominar o Condado da Feira

Em 1720, um pseudo conde julga-se capaz de enganar meio reino e decide avançar de peito aberto para o lugar de conde do Condado da Feira inventando a maior mentira de sempre das Terras de Santa Maria. Anselmo Braamcamp Freire no seu trabalho “Brasões da Sala de Sintra” refere-se assim: “Creio não existir entre nós, nem talvez em nenhum outro país, uma colecção mais audaciosa de documentos falsos, com inverosímil ousadia divulgado no livro”. Afinal que tamanha ousadia foi esta? Simples. Tipicamente português, um indivíduo decide contratar dois advogados e um padre, para enganar o Estado. Mas a história não começa aqui. Voltemos um pouco atrás. Depois da restauração da independência em 1640 o monarca D. João IV, com receio de não ser bem aceite pelos poderes locais, perder o poder conquistado pela guerra e também para dar trabalho aos filhos bastardos decide criar uma instituição – Casa do Infantado - sugadora dos bens das famílias poderosas. Aí entre a situação do Condado da Feira.
Em 1700 morre o último conde, D. Fernando Forjaz Pereira e a Casa da Feira fica sem sucessor. Com vontade de ter o resto da vida sem problemas financeiros surge um indivíduo - Álvaro Pereira Forjaz Coutinho – que se auto-denomina legítimo sucessor da Casa da Feira. Ora, em 1720 ainda não havia uma decisão deste processo o que comprova que os problemas de rapidez dos Tribunais não são de agora... Para ser possível comprovar a sua legitimidade, Álvaro Forjaz Coutinho vê-se obrigado a arquivar uma série de provas desde testamentos, a contratos de casamentos. Para isso contrata dois advogados e um padre – frade lóio - que era também seu irmão que certamente adoraria passear as suas insígnias nobiliárquicas.
Aqui começa a história cinematográfica. As provas são todas falsas. Todas inventadas. Um indivíduo foi capaz de arrastar durante mais de 20 anos no Tribunal Real a sua história fantasiosa digna de um conto de fadas. Mas esta era uma mentira numa vida real. Mas a chave desta história não é o Álvaro Pereira Forjaz Coutinho. São sim, os dois advogados - José Correia Barreto e Francisco Vaz Tagarro - e o padre - Pedro da Conceição. São estes que fazem do Álvaro Coutinho um candidato ao extenso e rico Condado da Feira. A minha conclusão, e plenamente justificada, é que são os dois advogados que vão inventar e compilar as provas deixando ao padre a tentativa de fazer passar uma imagem de divino e sagrado. Estes dois advogados frequentaram a Faculdade de Cânones e eram formados em Direito Civil. Um ano antes – 1719 – José Correia Barreto já havia feito uma alegação deste género. “Allegação de direito a favor do excelentíssimo Marquez mordomo-mor, sobre a sucessão do estado da casa de Aveiro. Afinal esta prática era comum pelo país, mas como a do caso feirense jamais existiu.
Das muitas provas apresentadas, ou melhor inventadas, podemos destacar algumas: Carta do rei D. Sebastião; Testamento do Conde Rui Vaz Pereira; contrato de casamento de D. João Pereira; Contrato de casamento de D. João Pereira; Testamento do conde de Marialva Vasco Fernandes Coutinho; Testamento de Lourenço Pires de Tavora; Contrato de Casamento do Conde Rui Pereira. Por este pequeno esboço percebemos que existem documentos para todos os gostos. Desde documentos locais a documentos régios. É impressionante o trabalho realizado pelos advogados porque tiveram imaginação para inventar e falsificar como nunca se tinha visto.
Agora o final desta história pitoresca. As provas não serviram de nada. Esqueceram-se de um pormenor. As datas dos documentos. Alguns testamentos tinham o nascimento dos filhos antes dos pais! Algumas senhoras casavam antes de nascerem! Foi um pormenor que não foi levado em conta pelos advogados, ou talvez tenha sido, mas pensaram que a beleza das palavras, a qualidade do papel e a ignorância do poder central poderiam conferir-lhe toda a legitimidade para assumir a Casa da Feira.
A História serve para perceber o passado, construir o presente e assegurar o futuro. A História de Santa Maria da Feira é importante porque estas não são simples terras plantadas entre Douro e Vouga. Nestas mesmas terras passaram reis, condes, viveram-se séculos com mil e uma histórias e cá estarei para contar algumas delas.

quinta-feira, novembro 09, 2006

250 ANOS DEPOIS - CONFERÊNCIAS

Programa de Conferências no Museu do Vinho do Porto, no âmbito dos 250 anos da criação da Região Demarcada do Douro (às quintas-feiras, 18.30 h): 12 Outubro "250 Anos depois" António Barros Cardoso 19 Outubro "Contestação social no Douro no período de instauração do liberalismo" Célia Taborda 26 Outubro "Patrimónios do Douro" Carlos Brochado de Almeida 2 Novembro "Novos desafios no Vale do Douro Superior" José António Oliveira 9 Novembro "Portugal e a Europa: o Tratado de Comércio com a Alemanha (1908)" Henrique Gomes de Araújo 16 Novembro "A fé do vinho" Vitor Teixeira 23 Novembro "Em torno das elites durienses" Maria Antonieta Cruz 30 Novembro "A importância diplomática do negócio do Vinho" Francisco Ribeiro da Silva
Organização GEHVID

VI SEMANA DE ESTUDOS MEDIEVAIS

Decorrerá nos próximos dias 27, 28 e 29 de Novembro a VI SEMANA DE ESTUDOS MEDIEVAIS, dedicada ao tema Organização Social do Espaço na Hispânia Medieval. Com especialistas nacionais e estrangeiros, a VI SEM será dividida em quatro sessões e uma visita de estudo. Para mais informações, consulte a página online em www.semedievais.com./ Conferencistas: . André Evangelista Marques [U. Porto] . Hermenegildo Fernandes [U. Lisboa] . Iria Gonçalves [U. Nova de Lisboa] . José Ángel Sesma Muñoz [U. Saragoça] . Juan Ignacio Ruiz de la Peña [U. Oviedo] . Lúcia Rosas [U. Porto] . Luís Carlos Amaral [U. Porto] . Maria Helena da Cruz Coelho [U. Coimbra] . Mário Barroca [U. Porto] . Paula Pinto Costa [U. Porto] . Santiago Macías [Campo Arqueológico de Mértola] Organização: Instituto de Documentação Histórica Apoios: Departamento de História e de Estudos Políticos e Internacionais Curso Integrado de Estudos Pós-Graduados em História Medieval e do Renascimento

quarta-feira, novembro 08, 2006

CANIDELO NA HISTÓRIA

Conferência do Professor Francisco Barbosa da Costa, ilustre historiador das terras de Gaia e investigador.

16 de Novembro - 15 horas
ASSOCIAÇÃO CULTURAL DE CANIDELO.

VEM CONHECER A HISTÓRIA DA NOSSA TERRA!!
VEM DESCOBRIR OS SEUS SEGREDOS …
É PROIBIDO FALTAR!

ORGANIZAÇÃO: “CLIO EM ESTÁGIO” (GONÇALO MAIA MARQUES, LUÍS ALVES DOS REIS E TIAGO SANTOS – ORIENTADORA: ALCINA RAMOS) clioemestagio@gmail.com

A Feira e a sua Comarca em 1801

Um dos melhores estudos feitos sobre Santa Maria da Feira é da autoria de Inês Amorim, professora da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, com o título “Descrição da Comarca da Feira – 1801”. Como seria a Comarca da Feira no início do século XIX? É isso que vou tentar explicar baseando-me na obra já citada e concentrando-me preferencialmente no actual Concelho da Feira. Actualmente a Comarca é apenas uma divisão Judicial. No período que está em estudo é uma divisão Judicial mas também administrativa. Pertenciam à Comarca da Feira as «villas» de Cambra, Castanheira, Cortegaça, Couto de Cucujães, Crestuma, Oliveira de Azeméis, Ovar, Pereira Jusã, Sandim e Feira que era o centro destas regiões. Este estudo tem por base um manuscrito realizado pelo Desembargador Corregedor Columbano Pinto Ribeiro de Castro em 1801. Nele são apresentados aspectos geográficos, demográficos, económicos e sociais. Outro facto importante está vincado nesta frase da Dra. Inês Amorim “O manuscrito revela uma grande capacidade de rigoroso trabalho de recolha de dados, de profissional habilitado, não pertencendo ao conjunto de autores que a propósito de exporem o seu pensamento económico e político, apresentam alguns dados seriáveis.” Por isso, podemos considerar que esta é uma fonte histórica valiosíssima.
Em termos de produção agrícola, a «villa» da Feira é muito abundante em cereais, tem algum vinho, algum peixe e muita lenha. Relativamente à pesca surge um dado curioso. A existência de um pequeno lugar chamado Espinho (forte núcleo piscatório) pertencente a Anta. Actualmente, como sabem, os papéis inverteram-se. Outra nota curiosa que este estudo nos indica é sobre a periodicidade da realização de feiras. Algumas dessas datas ainda hoje se mantêm. Feiras anuais, existiam a do dia de S. Sebastião, a do Castelo (sem referir a data) e a do 29 de Setembro em Lourosa. Mensalmente existia feira dia 4 em Arrifana, 7 em Canedo, 9 em Lourosa, 17 em Souto Redondo (actualmente São Jorge), 20 na Feira e 25 em Morado (actualmente Mozelos). A fonte estudada por Inês Amorim apresenta uma especificidade extremamente importante: a definição profissional da população da Comarca. Os dados apresentados são muito curiosos. Em primeiro aparece, obviamente, a profissão de lavradores (43,1%). Mesmo assim podemos considerar um número baixo para a época comparando com a generalidade do país. Isto demonstra a singularidade desta região e forte aptidão para a indústria. Obviamente nessa altura não existia o que hoje consideramos indústria, mas esses foram os primeiros passos numa maratona que ainda hoje é percorrida nestas terras feirenses. Somos uma região de indústrias. Em segundo lugar encontramos uma profissão muito particular. Os Sombreireiros, que correspondiam a 7,3% da população activa. Esta é uma «indústria» produtora de chapéus. Num dos próximos artigos irei debruçar-me sobre esse assunto. No terceiro posto encontram-se os pescadores que correspondem a 5,7% da população. Por todos os dados apresentados, a Comarca seria certamente constituída por pequenos núcleos urbanos. Apenas Canedo e Cucujães atingiam os 500 fogos (um fogo é uma habitação. As contagens eram feitas por fogos e não por pessoas).
Como conclusão final a Dra. Inês Amorim traduz na perfeição a análise feita com esta fonte. “Se é claro o carácter essencialmente agrícola de toda a Comarca, a verdade é que surgem diversos sinais de especificidades susceptíveis de poderem vir a revelar, a breve trecho, o peso crescente de outros sectores, nomeadamente o industrial.”

Alcina Bastos – Uma resistente em tempos de Ditadura

Quando vasculhava o arquivo da Associação 25 de Abril delegação Norte encontrei um pequeno livro com o título “Alcina Bastos” juntamente com uma foto. Fiquei bastante curioso acerca do conteúdo e decidi abrir o livro para saber quem era esta simpática senhora da fotografia. Qual é o meu espanto quando leio que esta desconhecida (para mim) era natural de Fiães e que havia sido uma importante figura política. Rapidamente apaixonei-me pelo pequeno livro e seguidamente pela vida da senhora. Afinal o que é que descobri?
Alcina Bastos foi uma importante advogada que viveu entre 1915 e 1993. Durante grande parte da vida lutou contra o Salazarismo em busca da liberdade política e justiça social. Em 1949 é uma voz activa no apoio à candidatura do general Norton de Matos à presidência da República. A partir deste momento passa a ser alvo de fortes medidas de segurança por parte da PIDE como comprovam os diversos relatos encontrados no arquivo deste organismo. Um deles diz o seguinte: “Esta, de bom porte moral, é desafecta à actual situação política.” Contudo, nunca se deixou afectar por pressões prosseguindo a sua luta pela liberdade. Em 1958 foi o braço direito do general Humberto Delgado, o «general sem medo». Certamente lembram-se do movimento nacional instalado em torno desta candidatura para Presidente da República. Mas voltemos um pouco atrás. Alcina Bastou nasceu em Fiães, numa casa que hoje é o actual infantário pretendido pela junta de freguesia local para museu. Nesta casa brincou, correu e cresceu. Tinha na família os melhores exemplos de lutadores republicanos. O seu maior exemplo era o seu pai que desde sempre lutou contra Salazar. Era inspector escolar e esteve preso no Tarrafal (campo de concentração português, igual aos que os alemães utilizavam com os judeus). Para aperfeiçoar o meu estudo procurei ouvir pessoas que conviveram diariamente com esta família. Um dos relatos diz-nos que “até o bigode arrancaram ao Sr. Inspector!”. Certa vez, a PIDE veio buscar o professor e a população de Fiães revoltou-se, não deixando a polícia levar o Sr. Inspector. “Éramos muitos em volta da casa, mas o Sr. Inspector disse que era melhor para ele e para nós deixarem-no levar.” Noutra ocasião, um polícia apontou uma arma à cabeça de Alcina Bastos para que ela fornecesse informações sobre o pai. Nada contou. Tinha 12 anos. Outro facto curioso é a existência de um esconderijo secreto na casa da família Bastos; quando a PIDE chegava, todos se escondiam.
Alcina Bastos era advogada. Um facto importante para uma mulher nos anos 40. O seu trabalho fez com que tivesse de viver dividida entre a sua terra natal e a sua zona de trabalho. Em 1955 Lisboa passa a ser a sua zona de trabalho mas não se esquece das origens voltando a casa várias vezes. Um dos meus entrevistados, o Sr. Joaquim Croa, em 1971 queria sair do país para trabalhar. Estávamos em período de guerra e iniciava-se a enorme crise financeira da década de 70. Para sair do país era necessária uma autorização especial dos serviços de estrangeiros e fronteiras. Depois de muito tentar o Sr. Joaquim não teve essa autorização e dirigiu-se à Dra. Alcina. Esta só lhe disse: “Você ainda não foi porque não veio ter comigo antes”. Bastou um telefonema da advogada para o Sr. Joaquim ter a autorização. Um ano depois, regressa da Alemanha e encontra a Dra. Alcina no Café Avenida em Fiães e oferece-lhe uma prenda. “Era uma moeda que tinha recebido novinha no banco na Alemanha e era comemorativa dos Jogos Olímpicos de Munique. Como sabia que a Dra. fazia colecção, guardei a moeda. A Dra. fez uma cara de enorme felicidade. Estava muito contente.” É este o melhor relato para definir esta feirense. Andava nas ruas ao lado de Humberto Delgado, lutando contra o Regime Salazarista, ajudando quem lhe pedisse auxílio. Ao mesmo tempo ficava comovida com a oferta de uma simples moeda de 10 marcos, mas que tem um enorme valor sentimental. Viu a sua luta reconhecida em Abril de 74 com a queda da ditadura e foi com extrema justiça que recebeu, a título póstumo, a medalha da Ordem da Liberdade em 1994.

terça-feira, novembro 07, 2006

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Este blog foi criado principalmente para publicar os artigos referentes à rubrica "Histórias da minha terra", que sai quinzenalmente no jornal "Terras da Feira".
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Tiago Santos